terça-feira, 9 de novembro de 2010

Nós, mulheres, as camaleoas

Esses dias passei em frente a uma loja de calçados (e assim como toda mulher, como quem não quer realmente nada, claro), e um tênis gracinha piscou pra mim - fiquei louca pra levar! Foi um de modelo e cor bem semelhantes a este da foto:
Na ocasião, entrei, provei, e vi que tinha tudo a ver pra eu usar em algum dia bem relax, num passeio de fim de tarde, talvez um café ou cineminha, só pra fazer um estilo e embarcar nessa nova onda do "sou colorida", ao qual se renderam quase todos os fashionistas e adolescentes deste nosso país (obviamente não sou nenhuma das duas coisas, mas curti bastante a moda do tênis!).
Senti que eu o tênis tínhamos uma dependência emocional quando, ao provar, ele se acomodou muito confortavelmente nos meus pés e eu fiquei parecendo uns 5 anos mais nova.
Namorei o dito cujo por quase uma hora, experimentei alguns modelos mais diferentes um pouco, testei outras cores (elegi um mais puxado pra um rosa choque, mesmo eu não sendo nada fã de tons de rosa...), e só não levei porque quiseram me cobrar quase 500 pratas pelo meu mimo juvenil.
Quase 500 Reais por um par de tênis, só porque é de marca, e só porque tá na moda??? E que eu vou usar uma vez ou outra??? Enlouqueceram?!?!?!?
Mulher que é mulher quase nunca (leia-se: NUNCA) se importa com um valor de um sapato/ calçado de forma geral se foi amor à primeira vista/ prova, mas a minha resposta naquele dia foi: NÃO, NÉ! NÃO PAGO ISSO POR UM PAR DE TÊNIS NEM QUE ELE VENHA PINTADO A OURO E COM PEDRINHAS DE CRISTAL SWAROVSKI!!

Voltei meio desalentada pra casa, na esperança de em outro lugar achar alguma coisa parecida, mas com preço de havaianas.

...

Passados uns dias do episódio, vi um mesmo modelo numa outra vitrina, com o preço também absurdamente elevado, e disparei na risada.
Daquela vez, não exatamente pelo valor da peça e minha indignação do outro dia, não!
Mas fiquei pensando em como que num mesmo armário cabem vários scarpins, sandálias de salto 10, peep toes, sapatinhos de boneca, sandálias de strass e...tênis naquele estilo!! Descabido demais pra ser verdade (porque, essencialmente falando, eu não tenho nada a ver com aquele tênis!)! Uma verdadeira aberração de...ESTILO!!!
E antes que eu pensasse na possibilidade de eu ter sérios problemas, por talvez não me encontrar no mundo da moda, concluí que não sou a única; nós, mulheres, somos assim...eternos seres "fashion mutantes", encarando várias personagens, com várias fantasias de moda e peças de vestuário das mais diversificadas possíveis. E talvez seja essa mutação, essa variação toda que nos torna especiais, e que torna a moda também especial.

É só analisar: mesmo a mulher mais básica do planeta tem um vestidinho preto de festa e um salto arrasador pra combinar. De outro lado, mesmo a mais patricinha tem pelo menos um jeans bem surrado e uma camiseta básica, com par de tênis ou chinelos pra arrematar o look.
E com esse carnaval de misturas, adquirimos novas formas, novos costumes, e até novas personalidades.
Ficamos com cara de executivas, se a ocasião nos exige ser assim; ficamos com jeitinho de Lolita, se a nossa intenção é bancar a moçoila sexy displicente; ficamos femininas, se optamos por lacinhos, frufrus extras, vestidos e salto alto; ficamos esportivas e grandes atletas, quando encaramos a roupa da academia com uma garrafinha de água pra acompanhar; ficamos casuais, se simplesmente escolhemos qualquer coisa básica do armário que nos faça sentir confortável; ficamos na última tendência, se copiamos alguma coisa que saiu da televisão ou das páginas das revistas femininas...podemos ser militares, hippies, Barbies, cowgirls, roqueiras, modernas, high-techs, vintages, delicadas e o que a nossa imaginação bem desejar (e os desfiles das últimas coleções, também!)!

Tudo isso não ocorre, obviamente, por não termos estilo ou identidade própria.
(Não descartando, porém, a máxima de que em moda nada se cria, tudo se copia! E, sim, mulheres se copiam constantemente!)
Mas ser mulher é exatamente isto: brincar com vários perfis e vários estilos, conformes nossas intenções ou humores do dia.

Graças a indústria da moda, cada vez mais diversificada e difundida, que podemos testar nossos vários "eus", brincando de descobrir qual deles é mais a nossa cara, mesmo.
Dependendo do que ou de quem está em voga, abrimos todo um leque de opções de vestir cada vez mais discrepante, e contraditoriamente falando, cada vez mais genial (eu que o diga!).

Bem nessas horas que sei porque sou tão fascinada por moda, e porque a cada dia me sinto tão agradecida por ter nascido mulher...
Aliás, eu e todas nós, as camaleoas!

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