segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Esta experiência eu indico!

Não é pular de paraquedas, nem sair na rua dando gritos de alívio, nem preparar um trabalho voluntário com os velhinhos do Lar de Zulma, nem torrar o limite do cartão de crédito com compras no shopping pra aliviar o stress e melhorar a autoestima, nem se matricular numa aula de esgrima, nem iniciar na psicoterapia pra um autoconhecimento profundo, nem escrever um livro, plantar uma árvore...nada disso!

Quer dizer, todos esses prazeres são válidos, engrandecem, agradam e tal, e não tem uma pessoa sequer que não tenha pensado em fazer uma, ou várias dessas coisas. E até acho que se deve, mesmo. Mas nenhuma delas é "A" experiência. Dessas que não dá pra morrer sem. Dessas que mudam a nossa história de verdade, em vários aspectos. Dessas que fazem com que tenhamos histórias hilárias pra contar e relembrar depois de um tempo (até porque eu já plantei bem mais de uma árvore, fiz esse meu papel sócio-cultural-ecológico, e não morro de dar risada me lembrando disso!! Sequer tem esse momento registrado no meu álbum de fotos da infância!!!).

Falo, obviamente, de viagens. De uma merecida viagem de férias.

E falo, principalmente, da melhor e mais oportuna coisa que você pode fazer por você mesmo: tirar suas férias e ir viajar.

SOZINHO!

Sim, s-o-z-i-n-h-o!

Com nenhuma outra pessoa, além de você próprio, pra lhe acompanhar nessa longa jornada em busca do seu "EU INTERIOR" (adoro usar esse termo mané em textos!), dos prazeres sadios da vida, da pessoa fantástica, corajosa e destemida que algum dia você ousou ser e não sabe porque bananas não é mais.

Claro que viajar com o amor da vida é fantástico - todo aquele clima de romance, história de filme bobo e novela no ar, todo um mundo feliz e cor-de-rosa girando em torno de você...lua-de-mel total. Passeios em família também são bárbaros, e fortalecem os laços (também, ninguém melhor do que alguém da sua própria família pra lhe aturar por alguns dias ininterruptos!) - ou pelo menos viram boas imagens pros porta-retratos do canto da sala. Viajar com amigos, então, é o que há: tem coisa que só amigo mesmo é capaz de dividir com você, e topar com você, e tudo melhora se a amizade é mesmo especial e se a pessoa já tem um significado muito importante na sua vida (também, se não tem, passa a ter...é bem isso que acontece em viagens!)...MAS NADA É TÃO INUSITADAMENTE INTERESSANTE QUANTO FAZER TURISMO SOZINHO!

Falo sério...E, de fato, mais do que recomendo!

Eu, por exemplo...Tava bastante puteada com a vida, tentando buscar rumos novos, ou, no mínimo, desligar minha mente de algumas coisas que estavam me desgastando. Sempre acho que uma escapada física do meu atual status de vida (= viagem!) é a melhor coisa pra que eu retome minhas energias. SEMPRE "dou minhas escapadas", e SEMPRE que volto percebo que não poderia ter feito nada melhor pela minha saúde e pela minha integridade mental. Mas não tive muito tempo de me programar (na verdade, nenhum!), e não consegui achar nenhuma companhia em tempo hábil (aquela coisa de que quem quer acompanhar, não pode no momento, e vice-versa), e resolvi encarar minha falta de parceira como um sinal dos céus: "vai ver que é pra eu ir sozinha, mesmo".

E fui!

Comprei passagens, reservei hotéis, meio de transporte local, pesquisei sobre as cidades visitadas, programação cultural e tudo o mais, preparei minha máquina fotográfica e parti. Feliz da vida, por, PELO MENOS, 2 semanas de turismo e muitas alegrias (tinha cogitado a possibilidade de ficar até mais que isso...bem mais!).

Admito que só o fato de sentar na poltrona do avião já deu um medinho e uma sensação de "vou desistir dessa palhaçada agora! Só pra minha cara! Qual vai ser a graça das próximas semanas?". Se eu enfrentasse uma turbulência forte, nem poderia contar com o apoio moral de algum conhecido pra segurar na minha mão, já começou por aí. E isso não foi nada - esse primeiro panicozinho (panicozão, porque definitivamente não quero morrer em desastre aéreo! Muito menos sozinha, porque é bem mais trágico!!), trouxe outros ainda maiores na minha cabeça. Coisas do tipo: "vou pra um outro país sozinha, e se me prenderem por me acharem com cara de fugitiva, laranja de tráfico internacional de drogas, bizarrices assim?", "e se eu for assaltada?", "e se alguém me sequestrar?", "e se eu for estuprada? Tem maníaco no mundo inteiro!!!", "e se eu ficar doente, de cama, alguma epidemia, pandemia, quem vai procurar um médico pra mim??", "e se eu cair no metrô, ou for atropelada, morrer por lá, morte súbita, ataque cardíaco...como vão fazer pra me encontrar?"...

E nessas horas nunca vem coisas boas, como "vou encontrar meu príncipe, igualzinho em filme, e vou ser feliz pro resto da minha vida, é o meu destino, e sei que ele está lá". Ou, ainda que fosse só isso, "vai ser a viagem mais perfeita e inesquecível da minha vida". Só dá pra pensar em coisa ruim.

A sorte é que tive um flash de "Opaa! Volta, retoma a coragem, que vai dar tudo certo!", afivelei meu cinto, prestei atenção pela milionésima vez nas dicas de segurança teatralizada pela aeromoça, fiz uma oração e procurei relaxar. Optei pela opção do "é...quem sabe não dou de cara com meu príncipe??".

Bem melhor.

Bom...vou pular a parte do como, quando e todo o miolo, porque sei que tem informação até pra um livro (ainda mais em se tratando de mim, que quase não escrevo!). Mas asseguro que tem MUITA coisa boa em viagens solitárias. Eu podia acordar às 6:30, quando tava afim de curtir mais a cidade, ou fazer alguma passeio que fosse me exigir um tempo extra, como podia esticar meu sono pras 9, 10h, sem nenhum guia chato pra bater na porta do meu quarto ou ninguém pra dizer que o alarme já soou umas 3 vezes, e que tá todo mundo atrasado. Podia escolher andar de carro, de trem, de metrô, de busão ou de limusine, de acordo com minha condição de dinheiro do momento e do meu humor do dia. Poderia, também, pegar o carro errado, o trem errado, o metrô errado, o ônibus errado, ou qualquer outra coisa errada, que não ia ter ninguém pra me chamar de burra e ignorante e ficar a tarde inteira me culpando por eu não ter me informado o suficiente (mas ainda bem que não me perdi!). Eu podia optar pela minha programação noturna - se um teatro, uma volta no parque, um cinema, ou ir pra cama mais cedo - sem ter que fazer alguma coisa que não estivesse tanto afim de fazer, ou sem ter que aturar a cara de mau-humor das pessoas que cederam a minha vontade muito a contragosto. Eu podia ficar muito tempo numa mesma loja provando uma roupa, ou em várias lojas provando várias roupas. Ou podia passar a léguas de distância de um shopping por achar uma perda de tempo, e escolher visitar algum ponto específico da cidade, talvez mais "cult". Eu podia revisitar alguma coisa pela qual tivesse me encantado. Ou podia cortar alguma coisa da minha rota, por não fazer tanta questão. Eu podia escolher onde comer, e o que, e em que horas (respeitando a vontade do meu estômago: na hora em que ele roncasse!). Eu podia escolher qual o caminho tomar, e podia, também, dar uma de aventureira pirada e sair sem mapa. EU PODIA QUALQUER COISA, porque, naquele momento, o meu nariz era só meu e de mais ninguém!

Fora as tantas coisas bacanas, que só aconteceram porque eu tava sozinha. Resolvi escrever um diário de viagem (até faço isso quase sempre, mesmo!), mas achei muito chique o fato de eu me flagrar, no meio da tarde, numa praça, bem "woodstock", sentada na grama, relatando poeticamente o meu dia na cidade ou as minhas impressões do lugar. Pude fazer isso porque, como não tinha ninguém pra dividir meu tempo, ele acabava sobrando...Chique e relaxante, né? Vai dizer...

Outra coisa que também foi chique: eu era e não era uma turista! Eu batia fotos, visitava os lugares, aproveitava a parte boa de turistar, mas sem ficar naquela pagação de mico de se amontoar numa turma de 40, de um punhado de gente com filmadora na mão dando tchauzinho pro além, sem ficar com cara de perdida, com um mapa gigante e uma pessoa na frente com uma bandeirinha vermelha indicando o caminho, sem bancar a trouxa por gastar horrores com alguma coisa turisticamente muito idiota, sem fazer pose infanto-juvenil na frente de uma estátua nada a ver, esse tipo de situação!

Também perdia horas falando sozinha - ou porque via alguma coisa muito bonita, ou porque me espantava com alguma cena, ou por frases do tipo "xi, onde é que eu coloquei o troco?" - e como não tinha ninguém pra falar/perguntar/comentar, quando eu percebia, inevitavelmente, tava falando era comigo, mesmo! Acabei percebendo que falar sozinho é algo extremamente terapêutico! Bom...eu, pelo menos, voltei mais calma que nunca!

E o fato de estar sozinho torna você uma pessoa muito mais carente e, por uma consequencia óbvia, muito mais aberto a novas possibilidades e amizades. Eu escancarava um sorriso pra qualquer um que me desse uma informação, que cruzasse comigo na rua, que me perguntasse de onde eu era, de forma que troquei email e telefones com o tiozinho da banca de revistas, com o casal de idosos que bateu uma foto pra mim, com as japonesas que estavam hospedadas no mesmo lugar que eu, com uma turma de mochileiros europeus, com a querida que estava no guichê da companhia aérea, despachou minhas malas e ficou uns 20 minutos de papo comigo!
Até convidei uma meia dúzia aí pra conhecer a minha cidade e se hospedar na minha casa (quem sabe eles não venham, mesmo! Imagina que legal!!!) !!!

Ah, e claro, o melhor efeito de todos eles: pode parecer exagero dos imensos, mas voltei me sentindo uma pessoa bem melhor! Mais corajosa, sem dúvida. Com mais iniciativa, também (na verdade, a inicitativa é um pré-requisito pra uma investida dessas, não tem como!). Mais autoconfiante e me valorizando bem mais, porque eu descobri que sou, sim, uma companhia super agradável. Todo mundo é, na verdade (eu aprovei a experiência de ficar SÓ comigo, até quase encher o saco! Cada um de nós tem um que de muito engraçado, ou de solidário, ou de esperto, ou qualquer outra coisa muito boa bem no íntimo, e se ninguém procura isso lá no fundinho, ninguém acaba se achando!)...

Também não deixei de fazer ABSOLUTAMENTE NADA do meu script turístico porque estava sozinha, o que me levou a ultima conclusão de que: ser feliz junto é maravilhoso, mas ser feliz só é plenamente possível!

(e viva o egocentrismo!!!)

Agora...tá certo: curtir um turismo sozinho pode ser chique, relaxante, necessário, maduro, terapêutico, transformador, e mais esse monte de coisa que eu falei aí, mas nem tudo é bom 100%. Claro que passei por alguns perrengues!

Primeiro que quem viaja sozinho, se não tem a sorte de se hospedar em albergues, ou alojamentos baratos, ou se odeia esse tipo de coisa, vai ter que gastar bem mais, do que se tivesse acompanhado. Transporte também encarece (não dá pra dividir táxi, por exemplo). E alguns outros gastos extras me fizeram crer que o mundo foi feito para os pares. Pelo menos o mundo econômico e o matemático (dividir por 2, ou 4 é melhor que dividir por um!).

Segundo que, inevitavelmente, é indicado achar alguma atividade extra, porque sobra tempo. Eu tomava café em 10 minutos, almoçava em 5 , e às vezes nem jantava. Saía andando pela rua, olhava no relógio: 16h15. Andava, andava, andava, andaaaaaaaava, batia algumas fotinhos, e olhava no relógio novamente: 16h30!!! E só tinham se passado 15 minutos entre milhares de coisas que eu tinha feito!!!! Tive que arrumar um livro pra ler, e palavra-cruzada, e tal...Passei boa parte escrevendo, também foi uma boa. Quem viaja sozinho tem que arrumar uma atividade-companhia a parte, senão também é ócio demais!

Terceiro que é claro que tem coisa que perde o charme: jantar no melhor retaurante da cidade fica completamente sem propósito sem uma excelente companhia!

Quarto que é necessário aturar a cara de espanto das pessoas que ficam sabendo que você viaja só, sem excursão, sem conhecido, sem nada. E ainda entender quando te olham com expressão de peninha (tipo: "ai, que tadinha, tá sozinha!"), e ter paciência pra dar trezentas mil vezes a mesma resposta: "ah, eu tô sozinha por opção, dessa vez..." ...

Quinto que, comigo não aconteceu (Graças a Deus!), e até pode não acontecer com ninguém, mas vai que dá alguma zica, mesmo (noc, noc, noc na madeira 3 vezes, credo!) ? Doença, acidente, transtorno, imprevisto...??? Resolver sozinho é realmente bem mais complicado! Quando não impossível...

Ah, e uma sexta coisa fundamental: não conta com ninguém pra bater foto pra você, que cansa ficar pedindo sempre, ou nem sempre é possível, e acho que nenhuma pessoa inteligente quer montar um álbum de viagem com 200 fotos ou mais de um cabeção, ora no canto direito, ora no esquerdo, né! Faz como eu e leva um tripé!!!! (Garanto: é meio chatinho montar sempre, mas as fotos saem bem boas!)

Mas o ideal mesmo é nem pensar nessas coisas ruins e nesses poréns. Ainda vale a coragem do "vou curtir um tempo de férias completamente sozinho!". Nem que não seja um passeio distante, caro, longo. Pela experiência, acredito que 2 dias já valem!!

(E vai que, como em filme, aconteça o que aconteceu comigo, de ainda arrebatar um "romance/flerte/amizade colorida" com o vizinho da poltrona no vôo de retorno!!!! Pode ser o meu príncipe, só Deus sabe!)

ENTÃO, já aviso...
Férias sozinha, turismo solitário, agora é pelo menos 1 vez por ano!
E não aceito parceiras, de jeito nenhum!
Nem tentem me convencer do contrário!!!!!