Como são as coisas da vida...
Quando comecei a criar cara e jeitinho de moça, aquela história de usar sutiã e salto alto (finalmente!), ganhar espinha no rosto, passar por toda aquela fase de adaptação ao absorvente higiênico (sim, existe isso!), eu me sentia a pessoa mais madura do mundo (como, no fundo, quase todos os "quase adolescentes"). De fato eu era crescidinha pra minha idade, aparentava ser mais velha - pelo meu tamanho, pela forma como eu me vestia, pela idade dos meus amigos, pelos papos que eu inventava desenvolver com qualquer pessoa...Quando eu dizia que tinha 12, na época em que eu realmente tinha 12, as pessoas ficavam horrorizadas, chegavam até a me perguntar se eu tinha tomado hormônio de crescimento (pra terem uma idéia, meu apelido era "a ANIMAL de 12 anos"...Bons tempos!!!...). E sempre vinha um "Nossa, mas nem é tanto pela tua aparência...é mais por conversar e ver que és mais madura do que as outras meninas da tua idade"...
E...bingo!!!
Com frases como essa eu ganhava o meu dia, o meu mês, o meu ano, e quase toda a minha juventude! Era bem melhor que presente gordo no Natal e mesada (embora eu nunca tivesse ganhado nenhuma das duas coisas pra saber como era...mas, na época, eram esses meus sonhos de consumo, que eu desejava incansavelmente...). Eu me achava "A" mulher madura. Esperta, avançada, antenada. E, pra variar, com opinião formada sobre tudo (esta - de me sentir a sabichona, não mudou tanto, verdade seja dita!). Eu lia várias coisas que eu pensava que iam contribuir pro meu lado filosófico-artístico-político-cultural; falava com muita propriedade sobre vários assuntos que até hoje eu nem sei direito; eu me metia em roda de conversa de gente grande; eu cuidava dos meus amigos que eram mais velhos que eu; e já naquele tempo eu era consultora emocional (daonde??) pra quase todas as pessoas que eu conhecia...
Como eu me satisfazia me sentindo vários anos mais velha!
Mas era apenas uma criança.
Uma criança que usava sutiã 42/44, mas ainda assim, uma criança!
Depois dos meus 20, várias coisas mudaram.
Meu manequim continuou o mesmo. De certa forma, meus gostos pessoais, também (obviamente, a fase de me sentir madura e super mulher passara!). O cabelo mudava quase todo mês, porém eu era a mesmíssima.
Só que as pessoas começaram a me dar menos idade do que eu realmente tinha. Sempre, no mínimo, uns dois anos a menos. Eis que me acostumei a ouvir frases do tipo "Nossa, achei que tinhas bem menos! Carinha de nova...toda magrinha!"
E...BINGO DUPLO!!!
Alguém me dizia que eu aparentava ter menos idade, e TAMBÉM me chamava de magra! Depois dos 20 (E dos 30, e dos 40, e dos 50...), a melhor coisa que uma mulher pode ouvir é que ela está "inteira", ou que está magra e deslumbrante. As duas coisas JUNTAS são megasena acumulada, ganhadora única!
Agora, então, que me encaminho (engatinhando, na verdade), pros trintinha, não preciso nem dizer que incorporei a idéia de me sentir mais jovem, mais cheia de vida. Já coloquei na minha cabeça que eu aparento ser mais nova, mesmo.
(Afinal de contas, com tanta gente me falando, fiz o dificílimo esforço pra acreditar!)
E às vezes eu tentava me comparar mentalmente com alguma pessoa de idade parelha, uma bem "acabadinha" (isso é horrível, eu sei, mas mulher tem disso!), só pra constatar, super imparcialmente, que minha situação ainda é bem melhor que a de muitas...
Mas sempre fiz questão de falar a minha idade, mesmo. Talvez de forma subconcientemente egocêntrica, só pra ouvir um "Ah, tudo isso??? Não tá parecendo, hein!".
Posso dizer que me orgulho muito do meu tempo de vida...
...
Ou que me orgulhAVA, até o fim da semana passada...
Acostumada com 2, 3 ou alguns anos a menos no meu currículo, fui pega de surpresa. Durante uma consulta médica, o abençoado do doutor, que nem me conhecia, acertou a minha idade NA MOSCA, sem nem pensar 2 vezes, ou respirar fundo pra responder. Na lata, só de bater o olho nas minhas ruguinhas de expressão...
A coisa foi tão rápida, tão automática, que quando vi já tinha feito: cometi um pecado horroroso!!
Confesso aqui pra vocês: MENTI IDADE PELA PRIMEIRA VEZ!!!
Discaradamente...
E, pelo menos até agora, que Deus me perdoe, não me arrependo nem um pouco...Acabo de perder 3 anos!