quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sim, Senhor!

Conheço muita gente que, como eu, tem muita dificuldade pra dizer um não.
Não falo pelos outros, mas no meu caso, é quase sempre pra não me estressar, não criar caso com a pessoa que me pede um favor e tal...Eu acho todo mundo legal, muy amigo de mi corazón, quero contribuir, ser útil...E as vezes nem vai me custar tanta coisa, mesmo (na verdade, na verdade, acaba dando um certo trabalho, muito mais do que eu imaginava que fosse dar, massss...quando percebo, já fiz!). Posso fazer com a cara meio contrariada, mas sempre faço. A frase "SIM, deixa comigo", sai mais do que automática, involuntária...deve estar no meu DNA.
O resultado é que costumo fazer bem mais coisas que conseguiria, e que deveria. Eu me desdobro em 500 pra dar conta de ajudar várias pessoas, de cumprir vários prazos, de executar vários trabalhos. Pra estar em vários lugares.
E quando a "pessoa que não consegue dizer NÃO" tem uma característica exigente e perfeccionista, assim como eu (e geralmente tem, porque as pessoas que não sabem recusar pedidos acabam atoladas de coisa porque, no fundo, no fundo, sempre acham que poderiam fazer melhor do que se apenas delegassem pra uma outra pessoa...acrescento aí também as péssimas características de egocentrismo e autocontrole - quando não controle do outro - excessivo), o estresse físico e mental é algo que beira o desumano.
Porque, imagina só...se a meta é fazer de tudo e dar conta do
recado, sem perder a qualidade, ALGUMA COISA vai ter que pagar por isso.
Não meu caso, são as ruguinhas precoces. Vez ou outra alguém me diz que ando meio estressada, também.

...

Nem preciso dizer que a dificuldade em dizer não me rendeu umas boas sessões de terapia.
Passei (e ainda passo) por péssimos bocados pra tentar achar o tal equilíbrio entre o "fazer concessões e ser uma pessoa acessível" e o "fazer concessões demais, perder o controle e entrar pelo cano"...
Porque, obviamente, são vários os contras de se falar amém pra tudo.
Eu já aceitei trabalhos que nem me agradavam tanto assim, já me envolvi com pessoas que nem me acrescentaram tanto assim, já assumi compromisso que não era meu, e comprei briga por causa alheia...entre outras várias coisas que entraram pra minha lista de "arrependimentos da vida".
Sei que é um defeito, ou característica negativa, e que, como tal, precisa ser mudada.
Só que...NÃO É FÁCIL MUDAR!
Sempre acabo com a frase "ainda aprendo a dizer um NÃO bem bonito da próxima vez em que vierem me pedir isso", e saio me sentindo a pior pessoa do mundo...

...

Tudo isso pra dizer que hoje fiz uma reflexão séria pra canalizar essa minha característica autodestrutiva pra uma coisa muito boa. Percebi que, se sofro por um lado, tem outros vários coitados e infelizes de outro, que penam porque não conseguem dizer...SIM!!
Assisti pela terceira vez ao "Sim, Senhor" (aquele com o Jim Carrey), que estava passando em alguma canal da tv a cabo, e foi onde me ressurgiu essa viagem toda na cabeça.

Na comédia (lançada em 2008), Carl (Jim Carrey) vive uma situação deplorável de desânimo e depressão, não vê mais graça em nada na vida, quando um amigo o convida a um culto de autoajuda. Na palestra, a idéia é "se abrir pra vida" através da premissa de dizer SIM pra todas as coisas que acontecerem. E a vida dele muda radicalmente - pra muito melhor!
Como é filme, aparecem várias situações em que ninguém diria sim (mas é comédia, precisa ser engraçado), e essa idéia do "vamos aceitar as oportunidades que surgem" fica muito exagerada e surreal. Mas a reflexão é interessante: quantas coisas perdemos porque tivemos medo de encarar, ou porque dissemos NÃO, pelo simples hábito de estarmos acostumados a negar o que não é convencional? Quantas oportunidades nos escaparam porque não ousamos encarar o desafio??? Quantas portas nem vimos serem abertas porque nossas mentes estavam enclausuradas, ocupadas com várias outras coisas (quase sempre, inúteis)??? Quantas foram as vezes em que dissemos NÃO só por medo de aceitar a idéia de um SIM????
Inclusive EU, a pessoa mais "não digo não" que eu conheço, já me flagrei pensando em algumas coisas que posso ter perdido por uma recusa idiota...
Nada mais óbvio: se não tentarmos, se não nos dermos uma oportunidade, como um dia saberemos se foi uma grande ou péssima idéia?

Agora, claro: nem tanto ao céu, nem tanto ao mar, Flipper!
Equilíbrio é essencial (e o mais difícil, falo com sabedoria de causa!).
Até no filme, repleto de piadas bobas, a questão do exagero prejudicial aparece no fim do enredo. Novas oportunidades não podem ser confundidas com grandes irresponsabilidades...

Mas só encerro dizendo o seguinte: hoje fiquei mais aliviada, não me levei pro tronco pela trocentésima vez por causa do meu sentimento de culpa (por me sentir sempre a boba que não consegue negar um favor), e vi que posso ter adquirido várias coisas sensacionais por causa dos inúmeros "SIM" que disparei ao longo da minha vida...Um rol quase infindável de coisas que, se pelo menos não foram tão boas assim, que me rendem até hoje excelentes lembranças...

Na dúvida, então, que optemos por um SIM!

Já estamos fartos de saber que, de irreversível nesta vida, só mesmo a morte...

Nenhum comentário: